Fim de ano em cartório não é só movimento de casamentos, escrituras e fechamento de caixa. É, também, a melhor oportunidade para pôr a casa em ordem, corrigir rota e começar 2026 com mais organização, segurança e eficiência — e com menos sustos em correições e fiscalizações.
A ideia deste artigo é ser bem prática: um checklist de fim de ano pensado para quem vive a rotina da serventia extrajudicial. Você pode usar como roteiro de reunião interna, plano de ação ou até “to-do list” de gestão.
Sugestão: imprima, marque o que já faz, o que precisa melhorar e o que ainda não existe na sua realidade.
1. Comece pelo diagnóstico: como foi 2025 no seu cartório?
Antes de sair implementando mudanças, olhe para o ano que passou:
- ☐ Quais foram os principais problemas recorrentes?
(atrasos em certidões, filas no atendimento, dificuldades com ressarcimento, SNP, SREI, CRC, e-Notariado, etc.)
- ☐ Houve apontamentos relevantes em correições (ordinária, extraordinária ou especial de transmissão de acervo)?
- ☐ Algum incidente crítico ocorreu?
- queda prolongada de sistema
- perda de dados ou falha de backup
- reclamações formais de usuários
- ☐ O cartório cumpriu bem prazos legais e normativos ao longo do ano?
Esse diagnóstico vira sua “linha de base” para priorizar o que entra no plano de ação de 2026.
2. Organização jurídica e conformidade normativa
Fim de ano é hora de alinhar a serventia com a norma atualizada (Código de Normas, provimentos do CNJ e da CGJ, SNP, centrais, COAF, LGPD, etc.).
Checklist mínimo:
- ☐ Revisar se os procedimentos internos estão aderentes ao Código de Normas vigente, provimentos mais recentes e atos da Corregedoria.
- ☐ Verificar se há algum provimento novo que exija:
- mudança de fluxo
- implantação de rotina (ex.: comunicações eletrônicas, centrais, SREI, SNP, CRC, CENSEC, COAF)
- ☐ Conferir se todos os procedimentos de gratuidade e ressarcimento estão sendo cumpridos corretamente:
- critérios de gratuidade
- lançamento adequado para ressarcimento
- controles para evitar perda de receitas ou pedidos indeferidos
- ☐ Revisar modelos-padrão (escrituras, certidões, atas notariais, notas devolutivas, requerimentos):
- estão atualizados?
- refletem a jurisprudência e os provimentos mais recentes?
Se possível, registre esse “check” em relatório interno — isso ajuda na hora de uma correição mostrar que há gestão ativa e não apenas reação.
3. Processos internos e fluxo de atendimento
Um cartório eficiente não é o que “corre” mais, mas o que gasta melhor o tempo.
Perguntas-chave:
- ☐ Existem fluxos mapeados para os principais serviços (nascimento, casamento, óbito, escrituras, procurações, protesto, registro de imóveis, RTD, PJ)?
- ☐ Há gargalos claros?
- filas longas em determinados horários
- retrabalho (refazer atos, corrigir erros, refazer certidões)
- perda de prazo em prenotações ou respostas
- ☐ O padrão de nota devolutiva está objetivo, claro e completo, evitando notas sucessivas para o mesmo título?
- ☐ O usuário entende o caminho que seu pedido vai percorrer? Há comunicação clara (murais, site, e-mail, WhatsApp institucional)?
Ajustes possíveis para 2026:
- organizar melhor a distribuição de tarefas entre prepostos;
- padronizar checklists internos por tipo de ato (o que conferir sempre antes de lavrar/registrar);
- criar “scripts” de atendimento para dúvidas mais comuns.
4. Acervo físico e digital: segurança e preservação
Fim de ano é momento ideal para olhar para o acervo com mais calma.
Acervo físico
- ☐ Os livros estão em bom estado (sem mofo, umidade, pragas, folhas soltas)?
- ☐ O local do acervo oferece segurança física mínima?
- ausência de infiltrações
- estrutura que minimize risco em caso de incêndio
- controle de acesso ao ambiente
- ☐ Há rotina de limpeza e conservação do acervo?
- ☐ Há classificação e organização que permitam localizar rapidamente livros e documentos?
Acervo digital e backups
- ☐ O sistema de automação está com backup em dia?
- periodicidade definida
- política de retenção
- backup off-site (fora do cartório)
- ☐ Já foi testada a restauração de backup em 2025 (não basta fazer o backup, é preciso testar se volta!)?
- ☐ Existem controles de acesso:
- logins individuais
- senhas fortes e trocadas periodicamente
- revogação imediata de acessos quando um funcionário sai
- ☐ Há política mínima de segurança da informação: uso de antivírus, atualizações de sistema, bloqueio de telas, sigilo de dados?
Isso tudo conversa diretamente com a responsabilidade do delegatário sobre o acervo e com a própria segurança jurídica dos atos.
5. Tecnologia e sistemas: atualização e eficiência
Seu sistema é aliado ou obstáculo?
- ☐ Todos os sistemas usados (notas, registro, financeiro, gestão, backup, centrais) estão:
- atualizados na última versão
- com suporte ativo
- ☐ As integrações estão funcionando bem:
- SNP
- centrais eletrônicas da especialidade
- sistemas do tribunal (selos, e-proc, malote digital)
- ☐ Há ferramentas que sua equipe não está aproveitando (relatórios, dashboards, automações, modelos)?
- ☐ Existe plano de contingência para:
- indisponibilidade do sistema
- queda de internet
- problema em computadores principais?
Para 2026, vale definir:
- que sistemas serão mantidos;
- se há necessidade de trocar fornecedor ou contratar módulos adicionais;
- quais automações podem reduzir trabalho manual (envio de comunicados, controle de tarefas, indicadores, etc.).
6. Equipe: dimensionamento, desenvolvimento e clima
Nenhuma norma se cumpre e nenhum sistema funciona sem pessoas bem preparadas.
Checklist da equipe:
- ☐ O quadro de prepostos está adequado ao volume de atos da serventia?
- ☐ A escala de férias de fim/início de ano já foi organizada — especialmente pensando no plantão do RCPN?
- ☐ Todos os contratos de trabalho e vínculos estão regulares (admissões, rescisões, férias, horas extras, teletrabalho)?
- ☐ A equipe recebeu treinamento em 2025?
- normas novas
- uso correto do sistema
- atendimento ao público
- ☐ Há plano de capacitação para 2026?
- cursos técnicos (RCPN, RI, notas, protesto, RTD, PJ)
- temas transversais (LGPD, COAF, gestão financeira, segurança da informação, atendimento, liderança)
Também vale a pena fazer, ainda que simples, uma conversa de feedback com os principais colaboradores: o que funcionou bem, o que pode melhorar, que ideias eles têm para o próximo ano.
7. Finanças, indicadores e planejamento tributário
Cartório organizado também é cartório com finanças claras.
- ☐ Fechamento anual:
- conciliação de receitas e despesas
- verificação da correta apuração de tributos (ISS, IR, contribuições)
- conferência de repasses obrigatórios (FRJ, fundos, ressarcimentos)
- ☐ Análise de indicadores de 2025:
- quantidade de atos por especialidade
- ticket médio
- atos gratuitos vs. ressarcidos
- custo médio por funcionário
- ☐ Avaliação de contratos e despesas:
- há gastos que podem ser renegociados ou cortados?
- melhorias que exigem novo investimento (hardware, mobiliário, treinamento)?
A partir disso, é possível montar um orçamento básico para 2026, evitando decisões impulsivas e permitindo investir onde realmente traz retorno (mais eficiência, mais segurança, menos risco).
8. Comunicação com o cidadão e imagem do cartório
O cartório tem, cada vez mais, um papel de serviço essencial e de referência de confiança na comunidade. Isso inclui como ele se apresenta.
- ☐ Mural físico está atualizado com:
- horários de atendimento
- tabela de emolumentos
- atos gratuitos
- canais de contato e ouvidoria
- ☐ Canais digitais:
- site, redes sociais ou WhatsApp institucional são usados de forma profissional?
- há informações básicas e claras (como fazer determinados atos, documentos necessários, horários especiais de fim de ano)?
- ☐ Foi realizada alguma pesquisa de satisfação em 2025?
- se sim, foram tomadas ações com base nos resultados?
Para 2026, vale planejar:
- uma rotina simples de comunicação (ex.: 1 postagem informativa por semana ou por quinzena);
- materiais de orientação padronizados (folders, PDFs, vídeos curtos explicativos).
9. Plano de ação para 2026: do checklist à prática
Checklist revisado, agora é hora de transformar em plano concreto.
Sugestão de passo a passo:
- Liste tudo o que precisa ser feito (a partir das seções acima).
- Classifique:
- o que é urgente (risco de infração, segurança, correição, perda de dados);
- o que é importante (melhorias de eficiência, treinamento, revisão de modelos);
- o que é desejável (projetos extras, comunicação, melhorias de conforto).
- Defina responsáveis internos para cada frente (normas, tecnologia, equipe, finanças, acervo).
- Estabeleça prazos realistas: começo, meio e fim de cada ação.
- Monte uma rotina de acompanhamento: reunião mensal ou bimestral de gestão para revisar o andamento do plano.
Quanto mais o cartório trabalhar com previsibilidade e processo, menos ele viverá “apagando incêndio” no ano que vem.
Conclusão: o melhor momento para organizar o cartório é agora
Fim de ano é, ao mesmo tempo, fechamento e recomeço. Para o cartório, é a chance de:
- limpar pendências;
- ajustar rotas antes de uma correição mais rigorosa;
- preparar equipe e estrutura para um 2026 mais tranquilo, produtivo e seguro.
Você não precisa fazer tudo de uma vez. Comece pelos pontos mais críticos do checklist, celebre as pequenas conquistas e vá construindo, mês a mês, uma rotina mais organizada e eficiente.